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sábado, 14 de junho de 2014

Mars




Mars é meu mangá favorito de todos os tempos! Eu nunca tinha me encantado e apegado tanto a um mangá antes, a ponto de querer que ele nunca acabasse. Inclusive, os capítulos traduzidos estão incompletos, o que seria algo péssimo para muitos, mas para mim saiu como uma mão na roda! Exatamente porque, sem ler o final de fato, o mangá nunca terá acabado para mim. Mesmo que a minha curiosidade me mate, acho melhor que as coisas sejam assim. Vai entender!
Mars conta a história de Kira, uma menina muito quieta, introvertida, solitária e enigmática. Ela não fala com ninguém, não tem amigos e é bastante misteriosa. Seu ponto forte é o dom que ela tem para o desenho, e é nessa forma de arte que ela expressa sua verdadeira personalidade. Já Rei é um cara lindo, popular e conquistador. Ele tem uma grande paixão por motos e é um tanto quanto irresponsável e inconsequente, sem falar no seu egocentrismo evidente no decorrer das páginas. Tudo começa quando eles se encontram por um acaso e Rei pede ajuda com direções a ela. Kira sempre foi tão quieta e invisível que Rei sequer percebe que os dois estudam juntos. Ela evita ao máximo as pessoas, principalmente as encrenqueiras como Rei. Kira evita falar com ele e por isso desenha um mapa para o rapaz, que só depois percebe o desenho no verso da folha. Rei se encanta por esse desenho e sua sensibilidade e por isso começa a tentar se aproximar daquela menina tão inalcançável. Ela aos poucos vai cedendo às investidas dele, que a vê inicialmente como alguém frágil e a ser protegido, quase como sua irmã mais nova. Mas, assim como a maioria dos casos, a amizade dos dois logo se transforma em algo muito mais grandioso até o ponto que não conseguem mais viver um sem o outro. 

Rei, o bad boy que não é tão bad assim... Esconde tantas coisas por detrás desse sorriso!

Rei é um personagem apaixonante, assim como Kira. Os dois são opostos, mas me parecem o casal mais certo que poderia existir. Rei tem traços delicados, cabelos compridos e loiros, pose de bad boy e muito charme. Mas é ainda mais lindo por dentro. Seu interior está devastado, enegrecido, solitário. Ele já passou por muita dor e decepção e cada pancada que levou da vida permanece ali, disfarçada, mas ainda uma ferida exposta. Ele é muito mais do que aparenta ser e é por isso que envolve cada vez mais as pessoas, fazendo com que sintam-se atraídas por sua personalidade. A cada trauma superado e passo dado adiante, essas feridas começam a cicatrizar. Já Kira é uma menina muito discreta, que não gosta de chamar atenção, vive se escondendo atrás de uma folha de papel. Quando desenha é o único momento em que é completamente sincera, com si mesma e com o mundo ao seu redor. Seus desenhos são intensos e muito sensíveis, capazes de captar um bando de sensações que tocam os outros e fazem de seu talento único. As feridas de Kira parecem cicatrizadas, mas abrem-se sempre que relembram um pouco dos dias de dor. Kira é uma daquelas pessoas silenciosas, mas com mentes barulhentas. Ela só encontra libertação e começa a ser quem realmente é quando encontra alguém com quem contar, depois de tanto tempo solitária. Ela encontra em Rei não só um amor, mas alguém capaz de entender seu sofrimento. Alguém que trilhou por caminhos tortuosos, mas que continua em frente. A certo ponto seus caminhos não só se cruzam, mas levam ao mesmo destino.

 Rei e Kira... Os traços são de dar gosto! Principalmente os olhos, tão expressivos...

O mangá está muito longe de ser mais um desses clichês super previsíveis e um tanto quanto fúteis que estão por aí. Inclusive é mais intenso e bem explorado que muitos livros e filmes que conheço. O enredo é simplesmente maravilhoso e os ganchos na história não são soltos e apelativos, mas todos se relacionam de alguma forma e só tem a acrescentar. É incrível a evolução dos personagens no decorrer da trama e seu crescimento diante a cada acontecimento marcante. Mars é cheio de drama e romance e pode até mesmo levar a lágrimas, por ter capítulos tão delicados e emocionantes. A história perambula por assuntos extremamente tocantes e sérios, como estupro, abandono, rebeldia, suicídio. Cada personagem tem um passado obscuro que influencia diretamente seu jeito de ser presente, e ao mesmo tempo se permitem ir mudando com o contato com pessoas marcantes e reviravoltas. 
Mars mostra que todos têm problemas, alguns mais sérios, outros menos. Mas todos têm o mesmo peso excruciante sobre quem os possui, com a mesma intensidade, e não se pode julgar algo que não se viveu na própria pele. Só nós mesmos conhecemos o peso de nossos problemas e a dimensão de nossas dores. E é preciso enfrentar alguns traumas de frente, ou seremos assombrados por eles eternamente. Superar os traumas às vezes é simplesmente ser exposto a emoções muito fortes, a situações de risco, a terapias de choque. Mas esse não é o único caminho: às vezes, tomando pequenas atitudes a cada dia, conseguimos deixar o passado para trás. De passo em passo retomamos nosso caminho e nos afastamos da escuridão. O amor é um sentimento libertador, mas também pode nos enjaular. E quando percebemos que o sentimento só nos faz mal e nos causa dor, devemos abandoná-lo, por mais difícil que pareça. Às vezes aquilo que nos causa sofrimento vale a pena ser mantido. Mas na maioria das vezes aquilo será apenas mais um empecilho para nossa felicidade. E isso não muda...

Quadro pintado por Kira. Nomeado Mars, o deus da guerra.

Todos nós, bem no fundo, sonhamos em mudar completamente uma pessoa. Em virar seu mundo de cabeça para baixo, salvá-lo e se tornar seu porto seguro. Mas algumas pessoas nunca mudam. 
Me encanta completamente aquele amor que nasce ao avesso. Aquela paixão que surge dos defeitos, não das qualidades. Que nasce na lama, como uma flor de lótus. Porque algumas pessoas podem ter os piores defeitos do mundo, mas valem a pena. Seus defeitos fazem parte de quem elas são, e fazem com que elas sejam ainda mais humanas, mais belas.
Chego a perder a conta da quantidade de coisas que esse mangá me mostrou, mesmo que de forma tão despretensiosa e simples. À primeira vista, toda essa profundidade passaria despercebida. Mas para aqueles que se permitiram não só acompanhar, mas se entregar à história, aos personagens e suas dores... Tiveram uma experiência incrível como eu.

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